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Duas Terras

Em imagens positivas, o leitor Beto levantou uma pergunta importante: “Sobre o uso de imagens positivas para Nirvana, que o assemelham a um Paraíso (cidade feliz etc.), não corremos o risco de confundí-lo com o Éden? E, ao invés de tratarmos de Buddhismo, não acabaríamos dando a impressão que Budismo e Cristianismo são a mesma coisa apenas com nomes diferentes e variações culturais e, assim, não haveria razão para ser Buddhista? Aliás, ser Buddhista não se tornaria apenas uma “forma exótica e oriental” de ser cristão, com Buddha no lugar de Javé e Nirvana no lugar de Éden?“.

Esse, de fato, é um tema bastante importante. Na realidade, na mencionada conversa com o prof. Alfred Bloom, ele disse que essa semelhança com o Cristianismo era um dos principais problemas que ele via na expansão do Shin no ocidente, porque muito frequentemente o Shin é mostrado como tendo conceitos semelhantes aos cristãos. Eu temo entretanto que tal questão possa somente ser dirimida a partir de um conhecimento aprofundado da doutrina Shin. Em um sentido, a Terra Pura é, de fato, semelhante a um tipo de Paraíso. Mas isso no seu sentido de “terra transformada” e não de “terra realizada”, e ainda assim a depender do que o interlocutor entenda por “paraíso”. Segundo o Mattoshô, a depender do entendimento do praticante – se ligado ao ensinamento verdadeiro ou ao provisório – o praticante se dirigirá para um objetivo diferente, “terra realizada” ou “terra transformada” respectivamente.

Assim, se o entendimento de paraíso é aquele de um lugar de recompensa dos méritos, isso é contemplado no buddhismo shin, mas como um ensinamento provisório, ou habilidoso, para aqueles ainda incapazes de adquirirem o verdadeiro shinjin, e a ser superado pelo entendimento verdadeiro do Voto Original. Essa distinção entre as ‘duas terras’ é fundamental para que haja um entendimento das diferenças que possam haver entre o Shin e concepções populares de conceitos cristãos.