Temos então afirmações do tipo:
1. “Os theravadas são mais monásticos” – como se todas as outras escolas buddhistas também não o fossem, como se os monges não seguissem também as regras monásticas, ainda que diferentes daquelas do monge Theravada; como se não houvessem leigos no Theravada, tal como, e na mesma proporção que existem em outras escolas.
2.”Só aceitam os sutras em pali como sendo de valor” – o que é uma inverdade colocada dessa forma. Assim como em qualquer outra das escolas buddhistas o Theravada faz uso também de comentários de mestres no decorrer de gerações. Da mesma forma, ainda que as outras escolas tenham um cânone diferente daquele do Theravada, elas também o consideram como sendo o de mais valor em relação aos outros materiais escritos.
3. “Sua ênfase é na meditação shamata (silêncio)” – totalmente incorreto, já que no Theravada samatha e vipassana são considerados como as asas de um pássaro, não se voa com apenas uma asa. Mas como as pessoas que opinam talvez não tenham qualquer contato direto com a escola…
4. “Baseam-se no entendimento das quatro nobres verdades” – querendo implicar com isso que o Theravada segue um ensinamento básico, enquanto outras escolas teriam as nobres verdades como ensinamento básico mas teriam todo um edifício mais profundo erguido sobre tais bases; o que é um profundo engano, onde se ‘compra’ a propaganda de outras escolas como tendo algum grau de realidade. É até difícil saber por onde começar para dissipar um erro tão básico.
5.”O Theravada não aceita muito o direito das mulheres” – o que é um absurdo quando visto sob a ótica da história do buddhismo. Melhor seria esforçar-se por compreender a história buddhista, diferenciá-la da história de povos e nações, e aplicar a mesma medida e julgamento a todas as escolas em seus contextos.
6. “Consideram que o desejo/apego é a causa do sofrimento” – implicando com isso que para as outras escolas a causa do sofrimento é a ignorância, algo mais profundo que o mero desejo. Uma mera leitura de algum sutta Theravada sobre a co-originação dependente, suttas que estão espalhados por todo o cânone, seria suficiente para ver que lá é claramente explicitado que o desejo nasce da ignorância.
Não seria tão bom que aqueles que não seguem o Theravada e não tem qualquer intimidade com a tradição viva de seus ensinamentos se limitassem a opinar sobre suas próprias escolas ao invés de nos dar trabalho?
Jorge: Parabéns por ter achado tal site. Nem sempre é fácil 🙂 De fato, tais preconceitos baseados na confusão são uma das razões porque o Theravada é pouco conhecido e frequentado. Quem quer visitar um centro que defende tais coisas?!
Emerson: obrigado pela dica, mas seu comentário tá na seção errada 🙂 Mas a foto, sim, ficou muito bonita e inspiradora.
Rev. Genshô:Prezado, você é uma das pessoas que ativamente lutam contra este preconceito e só nos resta elogiá-lo a esse respeito!
Ana:Gostei do exemplo da freira. É isso mesmo, trabalho de formiguinha diante do “majestoso mahayana, grande veículo, apropriado para as pessoas especiais e sem defeitos”. Felizmente há muitos nas escolas ditas Mahayana que não apóiam tais preconceitos baseados simplesmente no desconhecimento. Nossos amigos Emerson e rev. Gensho aí acima são dois desses exemplos meritórios. Quanto ao artigo mencionado, li-o e fiz um comentário crítico sobre ele na lista zen do yahoo, quando de sua publicação. Vc pode tanto acessar o conjunto das mensagens procurando por “ordenação feminina” (o título das mensagens era “caminho do meio”), ou simplesmente me escrevendo e eu posso passar o resumo dos pontos levantados por mim.
Olá Ricardo,
Continuo acompanhando seu esforço…me faz lembrar de minha infancia de colegio interno de freiras – uma das tarefas era tirar ” tiririca” dos jardins. Bastava tres dias e lá estavam elas novamente despontando. Um dia perdi a paciencia e argumentei com a freira: não tem jeito,só se a gente fizer um novo jardim. Ela sorriu, me passou a mão na cabeça e disse: se cada dia a gente tirar um pouquinho, e as flores e a grama ocuparem o espaço das ” tiriticas”, chega uma hora que elas não nascem mais e o jardim vai ficar cada dia mais bonito. Foi um grande alento para uma menina de 6 ou 7 anos…
O item 5 é o que mais me chama a atenção: ” O Theravada não aceita muito o direito das mulheres”,… é? será? nunca tinha me preocupado com essas questões de Budhismo em geral X Relações de Genero,meu aquietado lado feminista foi provocado..rs.Já li algo a respeito que a monja Coen escreveu a algum tempo atrás. Aproveitando o gancho gostaria de que se possivel vc aprofundasse e trabalhasse mais comentários sobre esta questão na ótica Theravada.
grata, ana
Querido amigo Dhanapala, fico envergonhado quando ouço manifestações deste tipo de praticantes não Theravada, além de fazer palestras colocando as coisas em seus lugares espero continuar convidando os professores Theravada para partilhar o Dharma com os zen budistas da escola Soto.
Rev. Genshô
o “praticante” da foto do dia 19 é um verdadeiro “hit” entre as publicações budistas… 🙂
ele esteve em SP para o retiro de fim de ano no templo sede do zen e a foto dele saiu na primeira edição deste ano da revista oficial da escola Soto, publicada no Japão em inglês, espanhol e português.
Caro Dhanapala,
esta é a sensação de quem, como eu, começa a estudar o Theravada depois de ter estudado o chamado Mahayana. Fe lizmente parece que há um início de conscientização e tentativa de correção destes equívocos.
Eu achei um site Mahayana onde não há a palavra Hinayana no texto referente a tradições Buddhistas.
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