Aqueles que estiveram presentes nos eventos do Dalai Lama em São Paulo no último mês, não deixaram de notar um senhor simpático, muito sorridente, vestido com uma camiseta verde (vocês podem vê-lo na extremidade direita da foto) e portando uma máquina fotográfica de fazer inveja a todos os fotógrafos profissionais que estavam cobrindo os eventos. Era o Sr. Chang Sheng Kai, empresário, dono da Brasfanta, e benfeitor de várias comunidades buddhistas, em especial, o principal sustentador do templo Zulai, do Colégio Sidarta, conselheiro da BLIA, etc.
Com sua máquina fotográfica ele se sentou ao meu lado durante a palestra do Dalai Lama no Zulai, não em algum assento especialmente preparado para ele, mais que merecido, mas na escadaria do templo. Com uma alegria quase infantil ele tirava fotos incessantes do líder tibetano, capturando cada movimento, cada mudança de expressão. Cheguei a comentar, jocosamente, com um amigo naquele mesmo dia, que alguém devia informar ao Sr. Chang que já haviam inventado a máquina filmadora, tantas as fotografias que ele tirou, as quais, se colocadas juntas, poderiam passar como um filme, tantas foram as fotos tiradas.
Foi então um choque para todos quando nos foi avisado que o Sr. Chang, ao anoitecer do dia 13, no próprio dia do Vesak, havia morrido. Seu mais recente legado ficou registrado neste site, contendo suas fotos tão empolgadamente tiradas.
Um evento desse tipo faz imediatamente lembrar de um outro, ocorrido na época do Buddha. Havia na cidade de Savatthi uma senhora extremamente devota que fazia de tudo para o mosteiro. Ela trazia alimento aos monges, varria o templo, colocava água nos potes e jarros, vários serviços ela fazia sempre pensando no bem-estar dos monges e praticantes. Naquela manhã em particular ela foi ao mosteiro e como sempre alimentou os monges e ofereceu flores ao Buddha. Não sem surpresa então, ficaram os monges quando souberam que naquela mesma tarde a senhora havia morrido, deixando quatro filhos e uma vida de virtude e devoção. Chocados, os bhikkhus vêm falar ao Buddha, ao que este responde (em minha tradução do pali):
Flores são colhidas
Pelo homem de mente desejosa,
Ainda não saciada pelos prazeres.
Este, o Finalizador o toma em seu poder.
O Finalizador, aqui, é outro nome para a morte. O sentido do verso é mostrar a fragilidade da vida. Seguimos pela vida colhendo flores (aqui representando os vários objetos dos sentidos) desejando isso e aquilo, mas sem nunca nos sentirmos saciados, pois essa é a natureza do samsara. Então, quando menos esperamos, a morte sobrevêm e nos leva. Este é um excelente ensinamentos sobre a impermanência! Possamos fazer o esforço de levar a vida da melhor forma e na direção correta.