À “a ainda não evidenciada “adaptabilidade” do Mahayana e a “resistência à mudança” do Theravada“, o autor passa, logo em seguida, a dizer que: “Prosseguindo com esta tese…” Entretanto, até o momento nenhuma tese foi apresentada, pois nenhum argumento fundamentado foi sequer levantado.
Enfim, ele diz: “um dos enunciados mais evidentes da flexibilidade do Mahayana (ou, de um ponto de vista mais crítico, de seu revisionismo) tem sido a adoção do ideal do Bodisatva ao descrever o caminho mais desejável na busca da Iluminação“.
O autor então, diz que a flexibilidade do Mahayana está na “adoção do ideal do Bodisatva ao descrever o caminho mais desejável na busca da Iluminação“. Analisemos essa afirmação.
Para o Buddhismo Theravada há duas vias espirituais. A do “Arahant”, que segue o caminho aberto e aconselhado pelo Buddha e busca a iluminação enquanto ajuda as pessoas em seu caminho, e a do “Bodhisatta” (ou skr. bodhisattva) que decide acumular infinitas quantidades de virtude a fim de remotamente no futuro se tornar um Buddha capaz de beneficiar infinitos seres.
Então onde está a “flexibilidade” do Mahayana? Não está em propor um “ideal do Bodhisattva”, uma vez que o Theravada já o propunha.
Estaria em propô-lo como o caminho mais desejável? O Mahayana, nessa questão, em geral faz “troça” do ideal do Arahant, sugerindo que ele seria um caminho egoísta e baixo. Isso é singular, uma vez que contraria explicitamente a totalidade do Cânon antigo, não somente do Theravada, mas de todas as escolas pré-Mahayana (lembremos que o Mahayana somente aparece na história pelo menos quatrocentos anos depois da morte do Buddha). Para contornar essa afirmação sui generis foi proposto por alguns de seus proponentes que todas as afirmações do Buddha concernentes ao seu conselho para seus discípulos se tornarem “Arahants” (que constitui curiosamente 100% do cânon antigo) seriam um ensinamento “provisório” e o que o Buddha “realmente” queria dizer (mas não o disse implícita ou explicitamente) era que todos deveriam seguir o ideal do Bodhisattva. Isso que o Buddha “queria realmente dizer” foi dito, segundo a lenda mahayana, apenas para alguns discípulos especiais, que mantiveram tal ensinamento “em segredo” e que seria revelado somente séculos mais tarde. Curiosamente, uma vez que o “segredo” foi “revelado”, ele se tornou o tema mais divulgado e popularizado pelo nascente Mahayana.
tag: budismo, buddhismo, mahayana, theravada, bodhisattva
Ana, ainda tem muito mais do texto 🙂
Mas é realmente interessante como certas idéias vão “pegando” com muito pouca reflexão a respeito. Talvez a própria dificuldade do homem em encontrar equilíbrio, e portanto conciliar trabalho interior e exterior, acabe favorecendo o nascimento de soluções aparentemente mais fáceis, seja porque se as toma pelo que não são, seja porque mais ‘esteticamente’ chamativas.
E se alguém conhecer algum link para a matéria online sobre Dawkins…
Caderno Mais da FSP de hj.
“As portas da compreensão”, Dawkins
e sua memética são comentados.
Dei uma olhadela rápida…
gasshô
ana lucia
Olá Ricardo,
Boa a “desconstrução” desse “meme.”
Eu particularmente nunca engoli essa, nem parei prá pensar muito sobre isso. Mesmo pq acredito que é somente qdo um individuo se transforma interiormente é que pode contribuir para a transformação de outros e da sociedade em geral.Nesse aspecto fecho com Nelson Rodrigues – ” toda unanimidade é burra.”
Por outro lado pensado na nossa formatação como cultura ocidental, uma cultura narcisica e individualista, creio que esse “meme”- o ideal bodisattiva cola bem,sem muita reflexão e um pensamento mais critico. Tem tb a questão de facilitar e querer tirar
um pouco a complexidade das coisas, o que acaba perdendo a essencia teorica e consequentemente a pratica.Vejo isso como uma questão séria principalmente aqui em Brasil varonil. Dai um passo para que os “memes” se fixem.
abs
ana lucia
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