Cheguei à China com o objetivo de participar do Sexto Fórum Buddhista Internacional, que seria realizado em Ningbo. Desde o momento em que pisei no aeroporto de Hangzhou, fui recebido com extrema gentileza. O povo chinês demonstrou uma educação e hospitalidade notáveis, e os organizadores do evento estavam comprometidos em nos proporcionar a melhor experiência possível.
Do aeroporto de Hangzhou até o local do evento, a viagem durou cerca de uma hora e meia. Durante esses dias, ficamos hospedados na cidade de Xikou, localizada a 39 quilômetros de Ningbo. Trata-se de uma pequena cidade de aproximadamente 84 mil habitantes, mas o hotel onde estamos hospedados é imponente.
Como cheguei um dia antes do início oficial do fórum, aproveitei a oportunidade para, junto com alguns velhos conhecidos que também estavam por aqui, visitar a antiga casa de Chiang Kai-shek, que hoje funciona como museu. Essa visita nos foi recomendada, já que Xikou é o local de nascimento de Chiang Kai-shek, uma figura histórica de enorme relevância para a China. A experiência de visitar o museu foi surpreendente, considerando o caráter controverso desse personagem histórico.
Chiang Kai-shek nasceu em 31 de outubro de 1887. Perdeu o pai ainda na infância e, em 1905, decidiu seguir a carreira militar. Pouco depois, optou por estudar no Japão, onde foi fortemente influenciado por ideias políticas e militares. Em 1907, ingressou na escola militar de Tóquio, onde teve contato com o Kuomintang, o partido nacionalista chinês liderado por Sun Yat-sen.
A revolução contra a dinastia Qing, de etnia manchu, começou na China em 1911, e Chiang Kai-shek retornou ao país para se juntar à luta. A revolução culminou na queda da dinastia Qing e na fundação da República da China. Em 1918, ele se juntou formalmente ao Kuomintang, e a partir daí iniciou sua carreira política, que o levaria à liderança da República da China após a morte de Sun Yat-sen, em 1925.
A partir de 1926, Chiang tentou unificar a China, conseguindo vitórias significativas sobre os senhores locais e sobre o exército comunista, o que levou à famosa Grande Marcha. Ele também promoveu reformas econômicas e educacionais, estabelecendo, em 1934, o Movimento Nova Vida, com o objetivo de reafirmar os valores confucionistas.
Em 1937, quando o Japão invadiu a China, Chiang foi duramente criticado por priorizar a luta contra os comunistas em vez de enfrentar diretamente os invasores japoneses. No entanto, acabou sendo forçado a colaborar com Mao Zedong e o exército comunista para juntos expulsarem as forças japonesas. Com a entrada da China na Segunda Guerra Mundial, o governo de Chiang passou a receber apoio financeiro significativo dos Estados Unidos.
Após a derrota do Japão, o conflito entre a ala apoiada pelos estadunidenses e a ala comunista do Kuomintang recomeçou, resultando finalmente, em 1949, na fundação da República Popular da China por Mao Zedong e no exílio de Chiang Kai-shek para Taiwan, com o apoio dos EUA.
O declínio do apoio a Chiang pode ser atribuído à sua inação frente à ameaça japonesa e às suas políticas conservadoras, que favoreciam os latifundiários e interesses mercantis, alienando os camponeses, que representavam a maior parte da população chinesa. Além disso, antes da guerra contra o Japão, Chiang já havia estabelecido alianças com banqueiros e políticos de Xangai, interessados em conter o avanço comunista, o que o afastou ainda mais das classes trabalhadoras.
Ainda assim, Chiang Kai-shek é bem considerado na China, como fica demonstrado por esta visita, e isso porque ele desempenhou um papel crucial na história da China entre 1927 e 1948, sendo o líder da República da China durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar de ter sido derrotado pelo Partido Comunista Chinês, exilando-se em Taiwan, sua importância como líder é reconhecida principalmente por sua resistência à invasão japonesa e por seu papel como chefe do Comitê de Defesa Nacional.