Um dos motivos mais frequentes de vermos as pessoas adotando o Buddhismo e, consequentemente, afastando-se de sua religião anterior, é o de que o Buddhismo não precisa de fé, é uma religião (quando não dizem que é uma filosofia!) racional, baseada em princípios lógicos e sem crendices. Apesar de haver um certo motivo para esse pensamento, ele não é muito preciso. O Buddhismo, sim, faz o uso da fé, e, eu diria, é um dos fatores fundamentais.
Ter fé é dar um voto de confiança para as técnicas e ensinamentos que nos são transmitidos. Tal voto deve ser mantido até o momento em que a prática desses ensinamentos e técnicas nos ofereça algo bom, saudável e satisfatório. Fé aqui significa que iremos tentar fazer o melhor possível. Se colocarmos em prática, dando 100% de nosso esforço e nenhum resultado vier, então podemos deixar de lado a fé e a prática, e buscar um outro método.
O sentido acima constitui o primeiro nível daquilo que o Buddhismo Theravada chama de ‘fé’. É um nível necessário e importante, mas, ainda assim, rudimentar ou comum. Ele é chamado de pakatisaddha, pois não provém do conhecimento, ou é apenas superficialmente influenciado por ele. Pakatisaddha é um nível necessário para praticar ações saudáveis como a generosidade, a disciplina virtuosa ou mesmo os estágios iniciais da meditação. Mas apenas esse nível não é suficiente para nos mover adiante nas etapas mais difíceis da ascese espiritual. Para isso é necessário o tipo de fé que nasce do desenvolvimento espiritual, bhavanasaddha. É a fé da ‘mente única’ ou da ‘mente focada’, a qual se desenvolve e amadurece a partir da prática dos métodos oferecidos pelo Bem-Aventurado, transformando-se em uma das faculdades controladoras (indriya) essenciais para um trilhar bem sucedido do caminho.