O autor segue com outra frase mal construída: “Pode-se, portanto, concluir que os costumes Mahayana foram formados em larga parte em função das necessidades da religião em atrair novos membros de acordo com as realidades específicas do passado“.
Interessante essa conclusão. Mas de onde ela veio? O que a conclusão que o autor revela ter chegado tem a ver com tudo o que disse anteriormente? Estaria ele sugerindo que o ideal do Bodhisattva em permanecer no mundo do sofrimento, adquirindo inumeráveis virtudes transcendentais, sacrificando qualquer bem pessoal e completamente dedicado à iluminação do outro é propício a “atrair novos membros”??!
Sempre devemos, em qualquer leitura, estar atentos a esses tipos de “conclusões”. João trouxe duas bananas para casa. Márcio trouxe três maças. *Portanto* temos dez abacaxis! Ao mesmo tempo em que o ideal do bodhisattva é descrito como extremamente árduo a ser trilhado, a afirmação é feita de que o Mahayana (nitidamente caracterizado como via do bodhisattva) surgiu para levar o dharma às massas!
Ele prossegue: “Fortalecendo esta argumentação está a clássica incongruência…”, mas, novamente, apesar de nenhuma argumentação ter sido feita até agora, o autor parece crer que dizer isso acrescentaria ainda uma força à conclusão geral no final. “… entre as perspectivas Mahayana e Theravada sobre a natureza de Buddha, ou potencial humano inato para a iluminação. Para os teólogos do Mahayana, a humanidade é dotada de uma capacidade inquestionável de atingir uma saída do ciclo de renascimentos. Essa perspectiva positiva é mais fácil de compreender quando contraposta com a filosofia Theravada, um tanto menos agradável, de que a natureza humana é um obstáculo a ser transposto na busca dessa transcendência“.
Isso é tão non-sense que parece desnecessário comentar e consegue ser um dos piores parágrafos que alguém poderia escrever sobre o tema. Primeiramente, o Theravada é explícito de que a “humanidade é dotada de uma capacidade inquestionável de atingir uma saída do ciclo de renascimentos”. Isso não é nenhuma característica especial do Mahayana ou de seus “teólogos”. Que outro motivo teria o Buddha para ter ensinado e que outro motivo teria a tradição Theravada para existir? Em segundo lugar, também para o Mahayana “a natureza humana”, ou mais especificamente, as aflições mentais e as raízes da cobiça, ódio e ilusão são “um obstáculo a ser transposto na busca dessa transcendência”. Isso não é uma “perspectiva” do Theravada somente. Que seguidor legítimo do Mahayana diria o contrário? Está em todas as escrituras e escritos dos mestres do Mahayana. Aqui se revela todo o tendencionismo do autor em criar distinções que não existem simplesmente para “provar” um preconceito.
No próximo seguimento, prosseguiremos com as questões de natureza búdica e evolução…