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Grande Onda, Grande Karuna

Exatamente um ano atrás eu estava na Thailândia, desfrutando das belezas peculiares das antigas ruínas de Ayuttaya, andando por suas ruas tranquilas, pesquisando a história bem como os efeitos do tempo sobre aquela que outrora foi a capital do Sião. Minha escolha por passar os últimos dias de minha viagem à Myanmar (Birmânia), onde fui para participar do congresso de cúpula buddhista, havia sido de caráter eminentemente prático.

Contava com alguns dias na Thailândia à minha frente, antes que o avião partisse para a Alemanha e de lá para o Brasil. Minha primeira opção seria passar alguns dias numa praia tranquila, por entre coqueiros e o mar límpido e verde da costa thailandesa. Mas, como disse, minha escolha havia sido eminentemente prática. Ganhei tantos livros, souveniers e artefatos religiosos em Myanmar, além das usuais encomendas de amigos e presentes para outros e para mim mesmo, que a perspectiva de chegar às praias com tanta bagagem e depois voltar de lá não me animou muito. Optei então pela bela cidade de Ayuttaya, que já fazia anos que não visitava.


Mal sabia eu que essa escolha poderia ter sido decisiva no prosseguimento desse conjunto de agregados que ora escreve e que enquanto meditava ao lado de Buddhas decepados pela impermanência do tempo, a poucas centenas de quilômetros dali, exatamente na costa da Thailândia, bem como nas costas dos vários países asiáticos ao redor, uma gigantesca onda batia impiedosa, arrastando seres vivos e esperanças. A mesma impermanência. “Uma lição assustadora sobre a mortalidade“, como Peter Goodman, do Washington Post, escreveu. Grande Onda, Grande Compaixão. A resposta mundial aos mais de duzentos mil mortos e milhões de atingidos foi emocionante e renovador da esperança pela humanidade. Ainda há humanidade nos corações humanos.

Nesta última semana, jornais, sites, revistas e noticiários relembram o grande tsunami. Que tudo isso sirva para nos fazer lembrar da compaixão, virtude tão importante, e que se revela aquela essencial na resolução das dificuldades de nossos semelhantes, todos esses seres vivos que compartilham conosco a condicionalidade e as subidas e descidas da grande onda que é o samsara.

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