Quando falamos em Dhamma-Vinaya, percebemos que um de seus aspectos é contribuir com a paz na sociedade. Quais são as intenções por trás das leis que supostamente regem a sociedade? O venerável Rewata Dhamma Sayadaw, num artigo que em breve aparecerá no site do Nalanda, diz o seguinte: “O que o Buddha ensinava era o Dhamma, sendo que um de seus significados é Correção, aquilo que é justo. Para um indivíduo, esforçar-se por ter uma vida correta depende dele ser moral ou imoral. A moralidade em si depende da inclinação mental de cada indivíduo. Ser moral ou imoral é algo governado pela pureza ou impureza da mente de cada indivíduo. O Buddhismo, portanto, não é uma religião no sentido em que a palavra é comumente entendida, com uma hierarquia de sacerdotes mediadores. É o caminho da purificação mental“.
Em meio a toda a discussão sobre a violência, uma reflexão é necessária a respeito do desarmamento e da exclusão social. Pensar criticamente no sentido buddhista é ponderar também sobre o que se passa no interior do homem. Como diz o Sayadaw: “De acordo com o Buddhismo, portanto, quaisquer injustiças, abusos e crimes que ocorrem na sociedade não são apenas produto da pobreza ou do declínio econômico, mas também são condicionados pela nossa própria postura mental“.
Essa questão da postura mental é importantíssima. Enquanto vemos dirigentes praticando a violência e desejando exercê-la ainda mais, no Buddhismo temos o exemplo notável de um dirigente que em meio à sangrenta guerra teve a oportunidade única de mudar completamente sua própria direção e conseqüentemente a do mundo ao redor. Diante das milhares de mortes em Kalinga, causadas por ele mesmo, Asoka viu-se como nunca diante da violência, arrependeu-se profundamente, e dedicou o resto da vida a um ação voltada para a nutrição da paz.
Nesse sentido, a recente descoberta de dez stupas construídas por Asoka em Kalinga, e mencionadas pelo viajante chinês Hsuan-tsang (629-645 d.C.), é não apenas uma vitória da arqueologia, mas um monumento à paz, vindo de eras distantes, a nos lembrar que mesmo em meio à violência, a paz pode brotar se apenas tivermos a dedicação em seu cultivo.