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Não Dualidade III

Em Não-Dualidade II foi colocado: “Como fazer então para explicar o paradoxo do monasticismo (o viver segundo as regras) como caminho inferior e o fato de o Buddha ter chamado o próprio ensinamento de Dhamma-Vinaya?

Esse paradoxo, que se coloca apenas para aqueles que aceitaram a versão não-dual e, portanto, acreditam que nesta o ápice da realização espiritual é estar acima de qualquer dualismo (tal como entre bem e mal, permitido e não-permitido, ordem e caos, perigoso e não-perigoso, etc.), foi resolvido historicamente através da criação da doutrina do gradualismo das escolas buddhistas, onde umas são mais ‘avançadas’ que outras, ou da doutrina dos veículos, em que se criou o pitoresco cenário do Buddha ensinando diferentes doutrinas para diferentes discípulos (e, portanto, escondendo ensinamentos dos que tinham entendimento limitado e dual).

A introdução da doutrina do gradualismo de escolas ou veículos, é claro, foi a responsável por um número imenso de disputas, ressentimentos, trocas de acusações e ‘elogios’ bem pouco esperados de buddhistas, que se estendem, infelizmente, até os dias atuais. Justificando a introdução de elementos contrários ao Cânon antigo, como a idéia de que toda e qualquer disciplina e conduta ética é superada numa ‘visão superior’ da realidade, dali para frente as escolas começaram a se colocar, cada qual, como o ápice do ensinamento buddhista, e as escrituras que escolheram para fundamentar suas doutrinas foram elevadas como sendo a conclusão final de tudo o que o Buddha ‘queria’ dizer, deixando as demais escrituras e escolas como meros ensinamentos parciais e incompletos, praticados por aqueles que não compreenderam ‘realmente’ a essência daquilo que o Buddha queria ensinar.

Ao contrário disso que infelizmente penetrou na história buddhista, não devemos entretanto identificar, de maneira ingênua e simplória, o Mahayana com a visão não-dual. É uma falácia, infelizmente muito divulgada e acreditada, de que o Mahayana como um todo prega uma transcendência com relação ‘moralidade’ e ‘disciplina’.

Pelo contrário, o Mahayana (pelo menos em seus primórdios) vai ainda mais longe no tocante à restrição pelo Vinaya. É Shantideva quem diz que o Bodhisattva reflete assim: “Não é pela restrição somente quanto ao código monástico que eu posso atingir a mais suprema iluminação. Mas devo aprender de todos os sutras as várias regras e preceitos de conduta apreciados pelo Tathagata“. Atisha é ainda mais claro a respeito: “Somente aquele que tem votos duradouros e estáveis em uma das sete modalidades do Pratimoksha é habilitato para o voto do Bodhisattva. Não há outro modo das coisas serem“. Pratimoksha ou Patimokkha é o conjunto de regras. E no Duhsilanigraha Sutra (mahayana) se diz: “O monge que viola sua Regra num estalar de dedos, sem consideração pelo manto laranja do Mestre, não deveria ser mantido na Sangha“. Em quê tais afirmações são diferentes daquela do monge Theravada? Nada. E como havia já falado, ‘vendo o perigo nos menores erros’ é a definição de bhikkhu.

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1 comentário em “Não Dualidade III”

  1. posso falar com você, sou espírita, mas estou muito desiludido pela dualidade que ele coloca, mas será que consigo chegar ao pensamento de não-dualidade? imagino que seria maravilhoso, mas como seria a minha vida? posso ser um não dualista praticar o espirití[email protected]

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