Mas será que alguma vez eles existiram realmente? O doce sabor da geléia, o convívio harmonioso e sadio no distribuir dos frutos da árvore, os picnics com suas toalhas e cestas… existiram realmente ou foram somente figmentos da imaginação naqueles que contavam com a árvore antes dela crescer?
A “alegria em saber, de fato, que não há felicidade no mundo” é uma frase poderosa no Buddhismo. Baseados em nossa busca de felicidade pessoal, pensamos, falamos e agimos, movendo as peças do quebra-cabeça do mundo para que se encaixem de acordo com nossos sentimentos. Somos livres, não somos? Deveríamos buscar nossa felicidade pessoal, não deveríamos? O chefe de família que alegremente passa duas horas lavando seu carro fica contente em ver seu carro limpo. Suas boas intenções lhe dizem que está no caminho certo. Claro que ele não vê que a água que ele desperdiça é parte de uma rede maior. Que ele está conectado aos vizinhos, ao povo de sua cidade, ao mundo. Sempre me causa surpresa quando lá pelas 11 da noite (ou quem sabe mais tarde) alguém estaciona na rua com seu toca cd ligado no máximo, acordando toda a vizinhança. Não me causa raiva, mas estupefação! Provalmente o rapaz está com a melhor das “boas intenções”, curtindo seu som, suas companhias, seu carrão. As tais “boas intenções” tem esse incrível poder de obscurecer a consciência de que ninguém vive separado.
Quando percebemos que “de fato, não há felicidade no mundo“, nossa felicidade pessoal torna-se parte de uma rede muito maior. Já não achamos que devemos seguir nossos instintos de felicidade pessoal a todo custo. Cuidamos de nossa rede. O chefe de família pensa na água antes de abrir a torneira por duas horas; o rapaz reavalia suas opções de prazer auditivo quando em via pública. Percebemos que não há compotas nem picnics antes de acontecerem, e que sair catando todas as folhas que caem é somente mais uma carga, um peso. Planos, situações, pessoas e idéias que caem e passam. Bharadanam dukkham loke, dizia o Buddha, “Carregar tais pesos é sofrimento neste mundo”.
Obrigado pela visita, amigos.
…Sempre bom ler seus textos e reflexões. Obrigado!!!
Texto belíssimo!!!!
Grato!
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