Para quem gosta de ler, e passou a vida acumulando livros, de tempos em tempos acontece de se olhar para as estantes e perceber que vários desses livros simplesmente não foram lidos, por melhores que sejam, mas apenas lá permanecem, à espera de quem sabe ‘um dia’ serem redescobertos com aquele mesmo interesse do olhar que uma vez os captou. São livros demais, tempo cada vez de menos, e várias outras prioridades, inclusive literárias também. E de tempos em tempos acontece de nos perguntarmos: “E então? Fazer o quê?”
Então nessa semana ocorreu-me a idéia, e posto aqui como sugestão de uma nova tentativa de redescobrir alguns desses livros. Porque não escolher 6 livros, um para cada dia da semana (um dia livre de intervalo), a serem lidos (ou relidos), revisitados, degustados somente naquele dia específico. Talvez um capítulo a cada dia ou o que for possível. Os seis deverão ser parte de categorias diferentes, mantendo a diversidade do input intelectual, evitando o tédio, ampliando perspectivas. Tais seis livros em seis categorias, claro, não precisarão incluir aqueles da rotina normal (aqueles que regularmente queremos | precisamos ler em nossa área ou atuação), nem precisam excluir outras leituras, mas são apenas uma tentativa de colocar um pouco mais de organização nas coisas.
Para começar, quais seriam boas categorias a escolher? Eis uma sugestão:
- Segundas-feiras (sempre um dia mais animado para mim), comecemos com: simbolismo|metafísica
- Terças-feiras: psicologia e terapias
- Quartas-feiras: temas da ciência
- Quintas-feiras: um pouco de poesia|literatura
- Sextas-feiras: filosofia
- Sábados: biografia|relatos de vida
Cada pessoa, claro, poderá criar sua própria combinação. Bem, uma vez definidos os temas, então é hora de escolher os livros. Aí vão os meus seis livros escolhidos para começar em cada categoria, que espero poder degustar, com vagar e interesse à medida que o tempo permitir, um pouco de cada, a cada dia:
- uma releitura do excelente Methaphysics de A.K.Coomaraswamy. ‘The Vedanta and the Western Traditions’ parece um ótimo capítulo para começar nesta segunda-feira.
- uma releitura de Bio-Spirituality de Campbell & McMahon, uma adaptação das técnicas de focusing numa perspectiva da espiritualidade ocidental.
- um livro há muito guardado e nunca lido, The End of Science de John Horgan, onde o autor reflete sobre a possibilidade de a Ciência estar chegando ao seu final criativo. O New York Times Book Review o definiu como uma “maravilhosa introdução concisa aos grandes hits científicos dos últimos 15 ou 20 anos“, e consiste de um conjunto de entrevistas com vários cientistas de ponta da atualidade.
- começarei com um pouco de poesia contemporânea americana buddhista com Beneath a Single Moon, uma coletânea de 45 poetas americanos influenciados pelo Buddhismo.
- para relaxar na sexta, nada como o filósofo romano do primeiro século, Sêneca, com duas de suas obras: Sobre a Tranquilidade da Alma e Sobre o Ócio.
- por fim, no sábado, viajar um pouco com Tiziano Terzani, no best-seller italiano Um Adivinho Me Disse. Em 1976, enquanto vivendo em Hong Kong, o jornalista Tiziano recebeu o conselho de um adivinho chinês: “Em 1993 você corre grande risco de morrer. Nesse ano não voe. Não voe de jeito nenhum“. O fatídico ano chegou, e nosso repórter decidiu seguir o conselho do velho adivinho, o que o levaria a uma fantástica viagem de descoberta da Ásia por terra e mar. Aliás, teria acontecido algo que confirmasse a previsão do adivinho? Só lendo o livro. A resposta já está no primeiro capítulo.
Não sei se conseguirei seguir fielmente isso, nem por quanto tempo, mas fica a idéia para outros também tentarem. Que se leia um pouco todos os dias. Que se use menos internet, celular, tv, twitter… Para um país onde sete em cada dez pessoas não sabem ler corretamente, um pouco de leitura não fará mal. Realmente nem um pouco mal.
E como inspiração, deixo-vos com uma passagem do Tiziano Terzani: “A profecia era desculpa. A verdade é que alguém aos 55 anos, tem uma grande vontade de acrescentar uma pitada de poesia na própria vida, de olhar para o mundo com novos olhos, de reler os clássicos, de redescobrir que o sol nasce, que existe lua no céu e que o tempo não é só aquele medido pelos relógios. Essa era a minha chance e não podia deixá-la escapar“. Então, arregacem as mangas, escolham suas aventuras e, se quiserem, comentem nesta folha a vontade que surgiu, ou as listas que fez, a partir do que acabaram de ler.
Esta idéia já havia sido experimentada, mas nao com 6 livros.
O problema é que sou fiel a um livro só, e nao gosto muito de misturar muitas essências, pois quero que a atmosfera seja mais concentrada, naquilo que esteja lendo.
Boas dicas de livros para futuras leituras.
Mar.
ótima ideia! livro parado é livro morto! =D
todos com ótimas contribuições! obrigado por compartilharem!
Pois eu, dia desses, olhei para a pequena pilha de seis livros com os quais estou envolvido e passou breve pela minha cabeça: “Taí coisa que o Dhanapala não aprovaria… Seis livros de uma vez?!” Porque o meu normal não passava de três até então! Mas os livros foram surgindo e eu os fui abraçando. Quase ganharam o sétimo companheiro ontem, mas eu pensei que aí já era demais!
Não faço a leitura de forma metódica como descrito por você, um em cada dia e tal. Vou lendo de acordo com algo que transita entre gosto e interesse.
Meus seis são:
A Gente Se Acostuma A Tudo – João Ubaldo Ribeiro
80 Anos De Poesia – Mário Quintana
Crônicas Escolhidas – Machado de Assis
O Vendedor de Histórias – Jostein Gaarder
Marcovaldo ou As etações na cidade – Ítalo Calvino
Os Melhores Contos de Medo, Horror e Morte – Grandes da literatura em contos.
De ciência são revistas e internet e os momentos biscoito recheado são quadrinhos… Embora alguns eu acho que são de farinha integral e enriquecidos com vitaminas…
E como você citou John Horgan, quando puder leia A Mente Desconhecida (este eu preciso reler), onde ele expõe os problemas das ciências da mente.
Abraço!
Boa leitura e boas escolhas para todos! abs. Fátima
Otima idéia mesmo professor, obrigado por compartilhar.
Segunda – O Tao da Física, de Fritjof Capra, um paralelo entre a Fisíca moderna e o misticismo Oriental.
Excelente livro onde o autor compara as mais recentes descobertas da física quântica, com os ensinamentos mais antigos do Oriente, Budismo, Zen, Pensamento Chinês, Taoísmo e Hinduísmo. Vou ler novamente.
Terça – Meditação Taoísta, Wu Jyh Cherng, inclui na íntegra a obra Zuò Wàng Lùn (Tratado sobre Sentar e Esquecer). Sempre tive muita curiosidade de conhecer mais sobre o Taoísmo mas apesar de ter este livro a muito tempo nunca passei da pagina 60. Com certeza vou recomeçar.
Quarta – A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. Engen Herrigel, já tive tantanvontade de ler esse livro, que quando comprei lí em algumas horas, mas hoje já não lembro de quase nada.
Quinta – A essência dos Ensinamentos de Buda, Thich Nhat Hanh
Sexta – Ma Tzu o Espelho Vaziu, Osho. Não parece ser verdade tudo o que está escrito nesse livro, mas de qualquer forma Osho era um orador de primeira, as menssagens são compreendidas de forma tocante.
Vou ler um, no máximo três capítulos dependendo do livro.
Valeeuuu…
Rafael Z.
Domingo –
Acabei de ler “Os Filhos do Nosso Bairro”, de Naguib Mahfouz, Nobel da Literatura em 1988, e é daqueles livros que não dá para intervalar com outros. Muito bom! Esteve proibido no Egipto. A história é conhecida de todos nós, como podem ler na sinopse (retirada da www): «Os Filhos do Nosso Bairro é um romance constituído por pequenas histórias sobre as vidas dos descendentes de um egípcio, Gabalawi, e dos seus filhos que vivem no bairro que vai crescendo e rodeando a sua mansão. Cada uma das cinco histórias se centra no surgimento de um “salvador” que vem remir os habitantes do bairro de governantes criminosos perversos, dando origem a uma época de paz e prosperidade. No entanto, após a morte de cada um destes notáveis salvadores, os habitantes do bairro regridem inevitavelmente para uma vida governada pela ganância e pela ânsia de poder que os conduz de novo à criminalidade.
Mahfouz tece uma narrativa encantadora que acompanha várias gerações através dos seus triunfos e sofrimentos, explorando a importância da esperança, da espiritualidade, da justiça e da noção de história de um povo face à opressão.»
Leio com muita atenção o que escreve, e agradeço … infinitamente!
Fátima (a N do Equador)
Olá!
Adorei a sua idéia, vou procurar o Um adivinho me disse, parece ser uma delicia a leitura, estou lendo As Montanhas de Buda, maravilhoso, conta a aventura de duas jovens monhas tibetanas apaixonadas pela liberdade, elas vão atravessa a pé o Himalaia até encontrar o dalai lama.
Namastê
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