Foi mencionado que “O Buddha disse que sua vinda e a existência de seu dhamma-vinaya eram para o benefício das massas, tanto devas quanto homens“. Um dos benefícios do Dhamma para a humanidade é o de levar a um burilamento das qualidades mais nobres do homem. É um tema frequentemente esquecido. Uns prestam atenção demais na meditação e em seus atingimentos; outros na resolução de mistérios e enigmas propostos em estórias buddhistas; outros no estudo teórico dos aspectos mais filosóficos de seus textos.
E o coração (citta) acaba sendo esquecido. Além dos mais conhecidos Estados Celestiais desenvolvidos na tradição Theravada há uma série de outras qualidades às quais se deveria igualmente prestar atenção, cultivando-as. Gratidão Ilimitada bem poderia ter sido colocada como mais um dos Estados Celestiais Ilimitados. No site fala-se da “expressão de gratidão em relação a pessoas que em particular foram importantes em nossas vidas… qualquer um que nos doou de alguma forma e a quem sempre quisemos dizer obrigado“. Esse é o motivo porque textos buddhistas tradicionais começam com a frase “Namo tassa bhagavato arahato sammasambuddhassa”; porque em nossos altares geralmente se encontram estátuas do Buddha e de alguns de nossos mestres e professores; porque algumas tradições compõem listas de transmissão e linhagem; porque em todos os povos é considerado educado dizer ‘obrigado’.
Gratidão implica em ‘não esquecer’. Eu diria que sua presença constante é uma das manifestações do funcionamento pleno de sati (vigilância) e appamada (diligência), fatores mentais estreitamente ligados à memória. Não esquecermos daqueles que nos ajudaram no caminho.
Talvez seja essa uma das coisas mais tristes nos autodidatas. “Eu si fiz por mim mesmo”, dizia Alberto Roberto, o personagem de Chico Anísio. O circuito está fechado e as referências giram e voltam para nós mesmos. Nenhuma abertura para ‘o outro’, nenhuma devoção, nenhum agradecimento, nenhuma memória que nos tire de nós mesmos.
Quem sabe os autodidatas pudessem remediar isso tratando cada livro e autor que lêem com a reverência a um ser vivo, e meditando sobre a bênção que é o esclarecimento vindo ‘do outro’, tomando-os como professores em seu próprio caminho. Mas é claro que o suporte da ‘pessoa viva’ ajuda; ela dá forma e concretude que podem servir de base para a meditação sobre a gratidão. Quando o Buddha atingiu o Despertar, a primeira coisa em que pensou foi em quem poderia ensinar o sublime Dhamma descoberto. E as primeiras pessoas nas quais pensou foram seus professores antigos, Alara Kalama e Uddaka Ramaputta. Isso não dá o que pensar?
Umas das belas expressões do site citado é essa, feita mais de vinte e cinco anos após, em relação a Mr. Jackson, o professor de francês: “I don’t know whether it was courageous or foolhardy for a teacher to expose his love of beauty to a bunch of teenagers in the way that he did, but it was certainly infectious in my case. I never got a chance to thank him, and the last I heard he had got MS about 15 years ago, so may well not be around anymore. Unselfconscious appreciation of beauty is rare, and I’m really grateful to him for sharing it”.
mais um para a série de “rememorações”….
obrigada.
ana
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