Pessoalmente, não penso que retirar do Buddhismo seus aspectos “religiosos ou mais rituais” seja algo que por si o afaste do Buddhismo original. Tanto quanto podemos ver no Cânon Pali, o Buddha não utilizava a maioria dos rituais e cerimônias que ocorrem nas escolas atuais do Buddhismo. Num sentido, isso o traz para mais perto do Buddhismo original, pois tenta recapturar a essência do Despertar. Entretanto, o que vemos no movimento vipassana no ocidente, pelo menos em suas primeiras décadas, é muito pouco, até mesmo um rebaixamento ou desmerecimento, do valor do estudo. E isso é de certa forma contrário ao Theravada. O Buddha ensinou que deveríamos tentar entender os ensinamentos por meio da prática, mas também do estudo. No pali, isso é chamado de patipatti e pariyatti, a via da prática e a via do estudo. Então, ignorando o estudo, o movimento vipassana americano, e por extensão ocidental, se torna vulnerável à mistura de todos os tipos com outras religiões e crenças.
Uma coisa que lembrei a eles, foi de que um dos professores com os quais estudei o Theravada, Buddhadasa Bhikkhu, favorecia esse tipo de atitude, qual seja, a de uma prática acoplada ao estudo, e uma diminuição significativa de quaisquer rituais a menos que pudessemos ver um significado mais profundo para sua prática. É partilhando desse mesmo espírito o que vejo presente nos vários professores de nossa Comunidade Nalanda, como Rewata Dhamma Sayadaw, Gyomay Kubose, Maha Ghosananda, etc.
Quanto a se um Buddhismo Theravada sem o monasticismo ainda seria Theravada, eu acredito que sim. A principal característica que distingue o Theravada de outras escolas é sua busca pelos ensinamentos originais do Buddha. Então ele atrai as pessoas que querem tomar as fontes mais antigas como guia. Não vejo os monges como tendo direito exclusivo sobre tais fontes. É verdade que o Theravada, enquanto instituição, se sustenta excessivamente sobre o monasticismo. Esse é um tema a ser lidado nessa e em futuras gerações de praticantes. É uma preocupação que eu mesmo levantei numa recente conferência em que participei, pois ignora certos aspectos importantes da prática integral. E tais preocupações encontraram um boa receptividade na audiência (que incluía monges), sendo inclusive convidado a expandir o tema em conferências futuras.
Apesar da instituição, como todas as instituições, apresentar aspectos de rigidez, o espírito do Theravada é ser fiel ao cânon antigo de escrituras. E este cânon possui uma grande variedade de modos de interpretação. Ao longo da história do Theravada, muitas vezes ele se desviou dessa essência. Começou, por exemplo, a confiar demais nos Comentários. Isso, aliás, é um problema em todas as escolas, as quais por vezes fundamentam-se muito mais nas palavras posteriores de mestres do que nas do próprio Buddha. Isso faz com que se comece a perder a criatividade e espírito essencial na interpretação do Cânon. O Buddha disse que seu ensinamento poderia ser considerado saudável enquanto as quatro sanghas estivessem presentes: monges, monjas, laicos e laicas. Então, acredito que todos os quatro sejam importantes e que os laicos têm um papel significativo nisso tudo, não apenas em sustentar os monges e monjas, mas também eles mesmo como guardiães do ensinamento.
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Tb compatuo dessa idéia de ver o buddhismo como utilizavel a partir dos ensinamentos do Buddha, sejamos laicos ou monges. Vejo no esforço, a diferença entre os laicos e os monges. Acho que a questão é se os laicos realmente praticam, seguem e estudam ou se querem uma coisa mais enxuta, que acho que o buddhismo, não o é.
Abçs
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