De Craig Lewis para Buddhistdoor Global | 2018-09-06 |
Mais de um ano após a demissão do diretor espiritual, Sogyal Rinpoche, devido a vários alunos e funcionários relatarem abusos e conduta imprópria, a Rigpa, uma rede internacional dos centros buddhistas que ele fundara, publicou os resultados de uma investigação independente de tais alegações feita pelo Lewis Silkin, um escritório de advocacia inglês.
O relatório detalhado de 50 páginas contém uma análise de várias acusações levantadas contra o conhecido professor Nyingma, examinando as circunstâncias de alguns incidentes específicos nos quais ele supostamente esteve envolvido, reexaminando as evidências apoiadoras. O Lewis Silkin enfatiza numerosas preocupações graves devido aos resultados da sua investigação e enumera várias recomendações, ações propostas e medidas de proteção para que a Rigpa possa seguir em frente. O relatório também recomenda que o Sogyal Rinpoche não participe mais em nenhum evento futuro organizada pela Rigpa, que ele não tenha mais contato com os seus alunos, e, que a Rigpa tome medidas para se dissociar do seu fundador “tanto quanto possível”.
Sendo uma rede internacional com mais que 100 centros de prática e grupos em 23 países, a Rigpa tem tido grandes dificuldades em lidar com as consequências desse escândalo público, apesar de muitas dessas acusações de abuso não serem novas – por vários anos elas têm atraído a atenção da mídia. A explicação oficial de Rigpa costumava se referir à tradição da “louca sabedoria” de desenvolvimento espiritual, que é caracterizada por métodos de ensino pouco convencionais, com o intuito de os alunos acabarem com os seus preconceitos e eliminarem os seus bloqueios mentais. A “louca sabedoria” é considerada um método acelerado para abrir os olhos e a mente para a verdadeira natureza do Dharma por seus seguidores.
No ano passado, em julho, uma carta pormenorizada, assinada por oito membros seniores e antigos membros da Rigpa [todos os autores da carta, seis dos quais se afastaram da Rigpa após a circulação da carta, foram alunos de Sogyal Rinpoche por mais que 15 anos], circulou dentro da organização. Essa carta, diretamente dirigida a Sogyal Rinpoche, forneceu detalhes dos vários abusos que ele supostamente cometeu e enfatizou quatro das principais preocupações: o suposto abuso físico e psicológico de alunos (que segundo Sogyal Rinpoche era uma expressão do seu “meio hábil” e da sua “compaixão irada”), o suposto abuso sexual de alunos, o estilo de vida supostamente opulento, financeiramente apoiado pela Rigpa, e, o impacto que tudo isso tenha tido para a confiança dos alunos no seu professor e para a sua apreciação do Dharma. Um comunicado de imprensa posteriormente publicado no dia 11 de agosto de 2017 informou sobre a decisão do Sogyal Rinpoche de se demitir imediatamente do seu cargo de diretor espiritual da Rigpa e organizações relacionadas.
No resumo do seu relatório de investigação, o Lewis Silkin disse:
Mesmo que tenha sido evidente que muitas pessoas acreditam terem se beneficiado grandemente de terem tido Sogyal Lakar como o seu professor, as experiências individuais são muito diferentes. Há diversos níveis de proximidade entre essas pessoas e Sogyal Lakar, e aquelas que têm estabelecido relações mais próximas com ele fazem parte do chamado “círculo interno”. As experiências de alguns dos membros desse círculo interno são muito diferentes em comparação às experiências que muitas pessoas que não conseguiram estabelecer uma relação do mesmo nível de proximidade com ele.
Nem todas as alegações contra Sogyal Lakar são verdadeiras, mas, com base nas provas disponíveis, posso concluir que:
- alguns alunos de Sogyal Lakar … sofreram abuso físico, sexual e emocional grave de sua parte
- alguns membros seniores da Rigpa estavam cientes do que estava acontecendo, pelo menos parcialmente, mas fracassaram em ajudá-los, pondo outro em risco.
Mesmo que Sogyal Rinpoche, nascido Sonam Gyaltsen Lakar, de 71 anos, não tenha refutado nenhuma das acusações contra ele, ele escreveu uma carta para a comunidade no dia 20 de julho de 2017, que “tenho claro em minha mente de que nunca agi com qualquer um com um motivo de ganho egoísta ou com intenção de prejudicar alguém”. Antes da sua demissão, Sogyal Rinpoche deu cursos na Ásia, na Austrália, na Europa e na América do Norte por mais que 30 anos.
Logo após a publicação do relatório do Lewis Silkin, a Rigpa emitiu uma declaração dizendo:
Reconhecemos a gravidade do relatório independente que a Rigpa encomendou no ano passado depois das alegações de conduta imprópria do fundador e diretor espiritual anterior da Rigpa, Sogyal Rinpoche, e agradecemos ao investigador e às testemunhas.
Lamentamos profundamente todos os acontecimentos e pedimos desculpa por toda a dor experiência pelos membros, anteriores e atuais, da comunidade Rigpa. Estamos contemplando o papel de nossa organização e como talvez tenhamos contribuído para essa situação. Queremos nos esforçar para alcançar e ajudar todos que foram afetados e assumimos toda a responsabilidade de garantir que a Rigpa será um ambiente seguro para todos. Essas são nossos esforços mais profundos.
As informações fornecidas nesse relatório irão afetar muitas pessoas. Será preciso tempo para que todos nós possamos refletir sobre o conteúdo desse relatório.
A Rigpa se empenha para agir de acordo com as recomendações do relatório. Iremos seguir em frente junto com a nossa comunidade.
A Rigpa também afirmou que “está se dedicando a continuar o processo de cura, de reconciliação e de transformação. Em reconhecimento da importância desse processo de cura e de transformação, os membros seniores da alta gerência estão renunciando aos seus cargos de governança” (Rigpa).
Nesse período de transformações, a Rigpa continua a se concentrar em atingir a sua visão de oferecer os ensinamentos buddhistas de meditação, de compaixão e de sabedoria ao mundo moderno. Os seus centros em todo o mundo continuam a oferecer cursos, programas, seminários e retiros orientados por professores e instrutores da Rigpa, assim como por professores visitantes e lamas, vindo da escola Nyingma (ou “escola antiga”) do Buddhismo Tibetano. (Rigpa)
Traduzido por Anna Ehehalt do Grupo de Tradução do Centro Nalanda
do original ‘Rigpa Publishes Result of Independent Investigation into Alleged Misconduct by Sogyal Rinpoche’ em acordo com os editores
Para Distribuição Gratuita© 2019 Edições Nalanda
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